Novo ano novo
Esse ano tô um tanto acelerada nas metas e aproveito a energia de troca de ano pra surfar na empolgação de cumprir as metas que der. Tenho muitas, muitas, mas seguindo as que tem dado, até então.
Nesse processo, já consegui ler 3 livros. Sendo justa, dois deles foram muito curtinhos: Vidas Secas, de Graciliano Ramos e A metamorfose, de Franz Kafka. Ambos excelentes e poderosos.
Em Vidas secas, uma família nordestina migra abatida pela seca do sertão. O impacto da fome, da sede, de vítimas da pobreza e corrupção, da grosseria adquirida pela dureza, da insensibilidade e desconfiança, mas acima de tudo, a honestidade, me impacta porque é daí que vem os meus antepassados e é um impacto que segue batendo mesmo quando não passamos mais em profundidade por tais aspectos. Mas o atraso? Ele tá lá. Vejo na minha vó, nas primas dela, no meu pai e suas histórias.
Minha vó, em avanço de demência, me faz pensar que, se tivesse tido uma vida mais confortável e sem privações, teria conseguido combater, não sei, a mente que se deteriora. E privações, não falo só as financeiras, mas humanas também. Não soube dar amor a alguns e, aos que deu, foi abandonada.
E aí vem A metamorfose falar sobre um personagem, o Samsa, que virou um inseto. Assim, sem mais, nem porquê. De forma similar, minha vó sofreu um AVC e, a pouco mais de um ano, vimos o processo dela de 'insetificação' de uma pessoa. Ela não sabe mais se comunicar, que não existe mais em convívio social, abandonada pelo filho, irmã, netos. Que, quando deixou de ser 'útil', passou a ser 'algo' a ser visto com pena e repugnância.
Em lapsos de autoconsciência, ela me diz que tô cheirosa e sempre respondo que ela que tá. Ela ri e diz "eu não". Mais de uma vez ela fala sobre se achar suja. Mas não, nunca tá, sempre tá cheirosinha e hidratada. É sobre isso que se trata as tais 'situações kafkianas'?
Apenas janeiro e eu já sendo socada em memórias e reflexões. Acho que o ano começou bem, apesar de pesares.