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Meu pai não me salvaria num apocalipse zumbi

Um dos filmes que vi esse fim de semana foi 'Train to Busan' (2016) que seria mais um filme de zumbis se não fosse o viés de explorar relações familiares. Acompanhamos uma pequena aniversariante de 8 anos que mora com o pai e a vó, o pai distante pelo excesso de trabalho e, triste, ela insiste em passar o aniversário com a mãe em Busan. Eis que um temido-por-todos apocalipse zumbi acontece bem quando eles estão no trem a caminho.

O pai vai recebendo lições ao longo da viagem que o faz perceber que a escolha dele de se priorizar, de exercer o egoísmo como uma ferramenta de conquista do sucesso financeiro e profissional, o fez perder em relação mais do que ganhar. Afinal, se separa da esposa, entristece a filha, vive em prol de trabalho. E, chamado a atenção pela filha, entende com custo de que em momentos de caos, ou há uma união pelo todo ou não há salvação pra ninguém.

Assistindo o filme e pensando na minha vida nos últimos anos, percebendo os principais pontos de conflito no meu núcleo principal familiar, cheguei na péssima constatação de que: meu pai não me salvaria num apocalipse zumbi.

Eu sinto que ele estaria entre os personagens que entram num vagão e impedem outros de se salvarem. Que se só houvesse espaço pra um, seria dele. Se tivesse que me jogar pra uma horda de zumbis me atacar, ele não pensaria duas vezes.

Porque, afinal, de todos os sacrifícios que fiz pelo bem dele, a forma de retribuição não vem nem em um simples "obrigado", ou nem na percepção de que reconhecer que eu, enquanto filha, sinto dor, cansaço, tristeza, desânimo, que preciso de um tempo, que preciso de espaço, preciso de distância. Que não sou uma mera existência pra servir.

É cruel, talvez, pensar assim. Mas estando no estágio da nossa trajetória atual, depois de nossas discussões e assistindo todas as omissões dele, me vem mais a certeza de que não, ele não me salvaria. Ele não pararia pra pensar em se sacrificar pra me salvar e, ainda digo mais, ele seria como um dos personagens que, quando se vê infectado, não se importaria em me infectar também.

Espero, com uma esperança ínfima, estar errada.

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