maturidade
Saindo de um estado totalmente abalada do hospital onde estava com minha vó, peguei uma carona compartilhada pra casa e vim escutando todo o discurso de uma garota que ia conversando com o motorista.
Eu só queria ficar quietinha, fechar os olhos pelas duas horas de viagem e sair do pesadelo que tinha vivido nos últimos dias, mas era impossível não deixar as palavras da garota entrar na mente.
Ela falou e falou sobre a carreira promissora de economista dela. Formada pela federal, já tinha passado em empresas de rede, gerenciando e supervisando equipes e agora estava se preparando pra chefiar uma filial. Citações de texto do linkedin e frases de sabedoria enlatada rolaram à rodo. Uma vida toda programada pro sucesso.
"Eu sou muito novinha, pô, só tenho 24 anos. E eu não trabalho por qualquer 2 conto. Meu custo de vida é alto e eu vou mantê-lo com minha competência"
Também impossível não pensar na nossa diferença fechada de idade, exatos 10 anos e na nossa diferença de vida. Eu trabalho por menos de 2 contos, eu tenho uma vida toda presa, eu não tenho a liberdade, nem plano de carreira, nem plano de nada e nem nunca pude ter. Mas é curioso pensar que aqui do alto dos meus 10+ de idade, ver a inocência e prepotência da pessoa jovem que acha que a vida segue à risca o roteiro que imagina.
Perto de chegar, a fulana liga pra painho e discute rapidamente sobre ele ir num lugar específico pra ir buscá-la.
"Tenha bom senso, painho, me busque, vá".
E a independência e fortaleza da jovem prepotente encolheu tão rápido quanto o balão de ego que ela encheu.
Bateu a realidade de ser uma pessoa mais velha e pensando: ô, menina, a vida tem tanto ainda pra te ensinar. Boa sorte.
Boa sorte pra mim também.