Kiff

Dia

Minha nova rotina consiste em levantar, tomar banho, me arrumar e sair com o cachorro pra passear. Em dias de estresse, sair com ele é um enorme contratempo. Em dias, digamos, bons, dá pra aproveitar o caminho.

E aí quando paro pra observar meu caminho eu lamento não conseguí-lo mais. Tenho a sorte de morar num lugar arborizado, tranquilo, espaçoso. Mal conservado, mas tem seu charme. Os pedregulhos deformados pelas raízes do calçadão dão uma sensação íngreme de um caminho antigo. No caminho, vizinhos colocam xerém pros passarinhos - e tem muitos deles, pardais, anuns, rolinhas - e é prazeroso de vê-los, primeiramente comendo e em seguida tomando banhos de areia. Mais a frente, as árvores antigas se curvam e se encontram formando algo similar a uma clareira que sempre me invoca a vontade de abrir uma cadeira de praia, sentar de pernas cruzadas com um livro ou um cavalete com uma pintura em andamento e deixar o tempo passar. Nessa época, o tempo vai esquentando e as pequenas folhas vão caindo e formando um caminho amarelinho pontuado com algumas folhas laranjas de outras árvores e algumas flores de outros pequenos pés. À noite, saindo com ele pelo mesmo caminho, a luz em desfoque no chão é substituída por um caminho escuro, mas ainda pontuado de folhas secas no chão que cantam quando pisamos em cima e os passarinhos são substituídos por morcegos dando voos rasantes à frente. Eu, que gosto de uma estética macabra, fico encantada.

Poderia me maldizer dos problemas da vida, mas é uma boa distração, é adorável e me faz desejar tanto, tanto uma vida mais tranquila onde tais coisas não passem de um borrão da correria diária.

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